Gilles Deleuze e a Educação

Por Márcio Alexandre da Silva

Gilles Deleuze nasceu em Paris em 1925. Alguns o consideram o mais importante filósofo do século XX.

Ele lecionou para universitários, mas a maior parte de sua vida acadêmica foi marcada pelas aulas dadas no ensino médio. Ele dizia que preparava as aulas da faculdade com o mesmo afinco e dedicação com que preparava as aulas para os alunos do ensino médio.

No texto Abecedário de Gilles Deleuze encontramos a afirmação de que o bom professor/pensador é aquele que elabora, cria novos conceitos filosóficos ou não. O próprio Deleuze cria um conceito novo que o intitula de “inspiração” na educação.
Segundo o francês, o bom professor para dar uma boa aula, deve estar demasiadamente inspirado e entusiasmado para tão grandioso oficio.

E quando o professor esta inspirado e o aluno nem tanto? O que fazer? Essa situação é comum nas salas de aulas brasileiras não podemos desprezá-las. No entanto se nós não estivermos extremamente preparados o interesse tornará ainda menor. Na educação às vezes nos falta otimismo. Se hoje fiz uma atividade bem preparada que envolveu cinco alunos de uma classe de quarenta, é pouco? Mas, amanhã se eu vier preparado posso conquistar mais um. Noutro dia dois, depois três ou até mais. E com o passar do tempo incluiremos o máximo de aluno possível nas nossas atividades.

E como alcançar esse ponto máximo que ele intitula inspiração? Como algo quase extra-humano – mas possível.

Obviamente que para Deleuze inspirar não é necessariamente sentar e esperar a inspiração como os poetas ou os compositores. Essa iluminação poética pode ajudar. No entanto, somada a longas e boas horas de preparação. A inspiração nada mais é do que o fruto da preparação. É sentar preparar, ler, reler, refletir, meditar, levantar hipótese, apresentar soluções. Enfim estar preparado para dialogar com seus alunos. Aqui entra outra problemática considerável. Como conseguir dialogar em uma sala com uma predominância de adolescente que falam de tudo, menos dos assuntos referentes às disciplinas? Deleuze via a preparação da aula como um ensaio – um laboratório. E para que a peça (aula), não houvesse contratempo, teria que haver muito ensaio, ou seja, profunda e fecunda preparação.

Tudo esta preparado para a grande peça, a apresentação final, ou seja, a aula. Normalmente quando a peça não é boa ouve-se barulho, gente conversando, andando e atrapalhando o desenvolvimento da apresentação. No entanto quando o espetáculo é bom, à maioria se concentra e presta atenção. Também não tomemos esse exemplo (peça) insinuando que o público (aluno) não deva participar do roteiro central. Ao contrário o “público/aluno” nessa apresentação é totalmente interativo, real, presente e que cobrará de você professor o melhor desempenho e atuação. Talvez essa seja uma formar de interagir e dialogar com os alunos que falam uma linguagem diferente da nossa. Não é colocar a culpa do baixo desempenho dos alunos nos professores. E sim fazer dos alunos atores do seu próprio conhecimento com a direção do grande mestre: o professor.

Outra tendência comum dos professores sobre a inspiração é o de pensar que com o passar dos anos como professores devemos nos preparar menos. Que produziremos da mesma forma. Esse é um engano educacional.

Alguns podem dizer que isso é utopia! Talvez seja. Confesso que não é fácil. No entanto penso assim por acreditar na educação. Como muitos professores acreditam!