Pensadores e pensadoras comuns*

O grande desafio da Filosofia é se tornar acessível a todos, mas sem perder sua profundidade. Antonio Gramsci, na sua obra Caderno dos Cárceres, afirma que todos somos filósofos, pois temos a capacidade racional de refletir. Mesmo não sendo filósofos de ofício [especialistas].

Gramsci diferencia o filósofo especialista do não especialista. O segundo [não especialista] também tem a capacidade de filosofar, mesmo que não embasados em teorias filosóficas puras.

Outro desafio do educador e educadora de filosofia: Como despertar [sobretudo nos alunos e alunas] a condição pessoal de sujeitos críticos?

Por que muitos eruditos não concordam com a afirmação de que a Filosofia esta próxima do senso comum? Isso não é desmerecer as teorias e os pensadores. Pelo contrário, é afirmar que a Filosofia não deve estar distante da realidade cotidiana de cada individuo. Precisamos exercitar o filosofar espontâneo e comum. Mas, sempre almejando o filosofar mais especialista [apropriando das teorias filosóficas]. A escola é um importante laboratório de aproximação dos pensadores clássicos e tradicionais.

A Filosofia no Ensino Médio tem a finalidade de desempenhar as habilidades por meio de propostas planejadas e diversificadas, que contemplem as competências de domínio da linguagem filosófica. Construir, aprofundar conceitos, compreensão de fenômenos do conhecimento, propor situações-problemas que levem o aluno e aluna a fazerem escolhas conscientes, éticas e coerentes.

Com isso, não queremos reduzir a filosofia a senso comum, não é isso, mas aproximá-la ao máximo do cotidiano para que os que têm senso comum desenvolvam senso crítico.

Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo- Assis - SP)

Onde estão as nossas referências?

A incrível arte de escrever e poder expressar as nossas imaginações e colocar nessas [imaginações] algo da realidade. É o dualismo platônico do real e do ideal. O texto a seguir é literário (idéias), como elementos concretos da realidade (real). Está disposto (a) fazer essa viagem, aperte o cinto da razão e solte as asas da imaginação... Bom vôo!

O texto a seguir é literário, mas tem uma densidade de realidade.

Um jovem brasileiro insatisfeito com as crises de referências humanas no Brasil visita o Tibet, onde encontra um velho eremita. Esse estava com a obra Macunaíma de Mario de Andrade.

O jovem pergunta: - Porque o interesse pela literatura brasileira?

O velho hesita. Não responde e indaga: - O que fazes no Tibet?

O jovem brada: - Procuro resposta para a falta de referências humanas no Brasil...

Prossegue o velho: - O Brasil já teve grandes líderes; na educação Paulo Freire e Darcy, entre outros: na música Chico, Caetano, Gil e Bethânia; na fé, grandes baluartes, como Claudio Hummes, Paulo Arns, Casaldáliga, Hélder Câmara, frei Betto, Leonardo Boff e Rubem Alves, entre muitos.

O jovem diz: - Esses foram ótimos líderes, mas pouco se fala em Teologia da Libertação [TL] no Brasil. E a música chegou ao final do poço.

O velho já entristecido pergunta: - E o grande líder sindicalista, que conseguiu organizar com ajuda de outros e outras, em 1985 uniu celebridades e povo simples para juntos saírem a ruas é gritarem por Diretas Já. Como é mesmo o nome dele?

O jovem entristece ainda mais: - Lula! Lutou pelos direitos dos trabalhadores e excluídos, fundou o Partido dos Trabalhadores (PT) e, tornou-se o primeiro presidente operário [metalúrgico] do Brasil. Deixando saudade do sindicalista sincero e sensível às necessidades dos necessitados.

O sábio eremita concluiu: - O filósofo e teólogo José Comblin relembra a anedota do jumento, que ao mudar de dono não se alegra, pois só muda o batedor, mas os chicotes e as chicoteadas são as mesmas.

O velho dá a sua última lição: - Como no clássico da literatura brasileira, Macunaíma [Mario de Andrade]: os heróis brasileiros não são tão bons como se pensavam, sobretudo os políticos.

O jovem contribui: - Precisamos de referências para nos espelharmos, não para nos dominar, mas, ser incentivo para empenharmos numa mudança política, social e econômica.

O jovem aproxima-se do velho e indaga: - Como sabes tantas coisas do Brasil?

O ancião, como os olhos lacrimejando responde: - Nasci no Brasil, e com 18 anos de idade, devido ao Golpe Militar [1964], exilei-me no Tibet, em busca de paz e harmonia. E nunca mais tive vontade de voltar ao Brasil!

Reflitamos terminamos mais um ano; quem foram destaques em 2008? Operação Satiagraha, Dantas, Pitta, crise econômica se intensifica, morte de Isabela Nardoni e muitas outras tragédias. CADÊ NOSSAS REFERÊNCIAS? Cadê nossos líderes? Onde estão os nossos heróis?
Onde se escondem as referências para a posteridade? Sarney? Temer, Dilma? Serra? Padre Marcelo?...Cadê? Quem? Com todo respeito aos citados anteriormente, mas, esses são poucos! Enquanto aguardamos novas referências, vamos, nós mesmos, fazer a nossa parte e contribuir para que 2009 seja um ano melhor.