Consciência Negra

A filosofia busca sempre a igualdade, seja ela social, política, econômica ou étnica. A filosofia grega antiga brota do desejo que todos os atenienses ou cosmopolitas tivessem suas opiniões formadas e elaboradas para defendê-las em praça públicas, onde eram tomadas a principais decisões das cidades (polis). Mas todos podiam opinar? Claro que não! Por que? Só podia defender suas idéias quem tivesse boa argumentação, ou seja, a chamada arte da retórica. Portanto a filosofia na tentativa de ser igualitária gerava desigualdades ideologias e sociais.

Essas desigualdades passaram milhares de anos e chegaram ao Brasil colonial. Uma forte desigualdade étnica se instala no novo continente, que percebemos suas raízes arraigadas na nossa sociedade. Isso conseqüência da histórica colonização de exploração praticada pelos portugueses a nossa nascente pátria. Essa colonização exploradora iniciou-se com tráfico de pessoas, começaram a contrabandear seres humanos do continente africano para o novo mundo. Ao chagarem nas novas terras, foram colocadas como escravos nos engenhos de cana de açúcar, sobretudo no Brasil.

É por esse rancho histórico de desumanidade, e pela discriminação sofrida por esses ascendentes afros, que por meio de lei federal o dia 20 de novembro foi dedicado ao DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA. Essa data foi escolhida em homenagem ao líder negro Zumbi que por muito tempo liderou o Quilombo dos Palmares.

Muitos não concordam com o jargão DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, pois essa atitude não pode ficar apenas num dia. Mas se tomarmos consciência da importância desse povo no início da nossa descoberta valorizaríamos sua riqueza, cultura, fé, costumes, hábitos alimentares, que são nosso jeito de ser mais genuíno. Ou vocês pensam que começamos a elaborar nossa cultura, fé, culinária, depois que acabou a escravidão no Brasil? Felizmente temos fortes traços desse povo que se organizou para que houvesse justiça social. Prova dessa luta e resistência são os Quilombos, essa palavra de origem africana que significa campo de guerreiros. Eles foram pessoas que na sua organização primordial iniciaram movimentos sociais importantes, são fontes mesmo que inconsciente da filosofia africana, filosofia da libertação na América Latina e teologias da libertação no mesmo continente citado anteriormente.

A nossa cultura é racista, por exemplo, o nosso maior símbolo folclórico (O Saci). Tudo de errado atribuem ao personagem de Monteiro; se um morcego trança a crina de um animal, se algum acidente ocasiona um incêndio, azedam o leite, quebram pontas das agulhas, escondem a tesourinha de unha, embaraçam os novelos de linha, fazem o dedal das costureiras cair nos buracos, botam moscas na sopa, queimam o feijão que está no fogo, goram os ovos das ninhadas, e a culpa recai sobre quem? Esses atributos ao saci, fazem parte do inconsciente coletivo racista brasileiro. Por que não poderia ser um português, ou alemão, ou norte americano fazendo bagunça, tem que ser alguém que lembre a cultura negra? Isso é o que? Racismo! Ou tem outro nome? Com todo respeito a Monteiro Lobato.

Por esses e outros motivos que se faz necessária a formação da consciência da importância dos afro-descendentes na formação do nosso povo tem que ser exercitada na educação básica escolar, familiar e social. E não é falando ou escrevendo que venceremos as diferenças étnicas, mas sim aceitado as diversidades culturais, religiosas e política no nosso cotidiano.

Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)